La Mercè - dia 4

Hoje. Vou escrevendo enquanto trato da lide da casa. Felizmente é pouco trabalho... Não está tempo para ir à praia, mas está óptimo para um passeio de bicicleta, que é que vou fazer assim que aspirar o quarto. À noite já não há concertos mas há algumas actividades pelas ruas, tudo muito mais calmo. Amanhã começam as hostilidades com double-bill Macroeconomia e Econometria, das 9h às 13h. Depois de tanta confusão durante estes dias, vai ser bom voltar a estudar a sério. Pelo menos estou a contar com isso.

La Mercè - dia 3

Mais do mesmo. Praia, jantar, fogo de artifício e passeio por Barceloneta e ida ao Fórum. A única coisa interessante foi Barceloneta. Apesar de não perceber a piada dos fuegos artificiales, foi engraçado passear pelas ruas deste bairro pescatório e pelo passeio marítimo. Deu para ver que também há uma faceta popular nestas festas de Barcelona, ainda que refundida, com famílias inteiras a jantar na rua e um ou outro bailarico.

Chegámos demasiado cedo ao Fórum. No palco principal vi a versão espanhola dos !!! meets Hot Hot Heat chamada It's Not Not, que mais parecia a continuação da actuação do DJ que os precedeu (que passou, ironicamente, !!!) e uns minutinhos dos Cycle (electro espanhol). Noutro palco havia Hip-Hop bastante decente e vi o final do concerto dos Raw-T e o início dos Cannibal Ox. A falta de companhia e de vontade (e de cerveja barata) foi suficiente para regressar a casa, e acabei por perder Sole a tocar com uma banda de Barcelona, que me parecia bastante interessante (o concerto começava às 3.45, um horário criminoso).

La Mercè - dia 2

Cansado de andar com um grupo demasiado grande, como na noite anterior, pirei-me sozinho para o Raval para ver os concertos.Vi Smog e parte de Ben Lee, mas foi aborrecido estar rodeado por tagarelice alheia. Ben Lee seria sempre mau, pop xoninhas no seu pior, mas Smog perdeu bastante em relação ao concerto que vi em Portugal.

Farto destas andanças solitárias desci até à Rambla do Raval ter com uns amigos. Por lá o ambiente era muito melhor. Boa conversa, freaks, música árabe e cerveja gelada a 1€. Quando acabou fiz as 7 estações de metro até ao Fórum para ir ter com outros amigos, a única alternativa ao ar livre para acabar a festa a horas tardias (parte da malta foi a uma discoteca).

O Fórum é uma feira popular gigante, com três palcos, farturas e "diversões" onde os concertos duram até às 5. Tudo isto é grátis, mas as bandas são naquela e o som terrível. Lá fiquei a ouvir hip-hop espanhol, meio na conversa, até perto do fim. Para o final da noite restou a aventura de regressar num Metro bem acima da sua capacidade, cheio de gente com um copo a mais. Foi muito NINGUÉM PÁRA O BENFICA NINGUÉM PÁRA O BENFICA AE-HO.

La Mercè - dia 1

La Mercè é a maior festa de Barcelona. Trata-se de uma festa de rua, uma espécie de Santo António sem sardinhas e menos popular. A julgar pela variedade musical dos palcos espalhados pela cidade, mais parece uma festa do Avante em ponto grande. Ontem à noite foi o primeiro dia e não foi nada de especial. Cheguei demasiado tarde para os concertos que gostaria de ver (hoje vejo Smog, pelo menos) e aindei a passear com um grupo grande de gente pelas ruas de Barcelona, acabando depois numa discoteca num edifício que já foi um salão de baile, onde havia uma "banda de jazz" a tocar o que parecia ser house. Sítio classy, resto aborrecido.

Estava bastante cansado porque tudo isto foi após o 2º jogo de futebol contra os estudantes mais velhos do Programa. Lavámos a cara da humilhação anterior e há discussão entre eles se ganhámos ou não; mas pelo menos não perdemos.

Finalmente, o primeiro dia da La Mercè começou com o exame diagnóstico de Matemática e Estatística, seguido de discursos dos directores dos Programas. Pontos a reter: quem não sabe matemática vai-se arrepender de escolher os "core courses" (repetido uma série de vezes em jeito de aviso; e insistindo que é possível fazer os exames de entrada no PHD apenas com os "applied courses"); Gestão é menos exigente tecnicamente que Economia e por isso não tem distinção entre "core" e "applied"; e muita gente não tem uma ideia certa do que anda a aqui a fazer. Segunda começa a sério.

À tarde, praia. Como hoje daqui por mais duas horas. Até amanhã.

Noite

Sair à noite de bike, tirando o minuto que demora a prender a bike enquanto os outros estão dentro do bar, é a melhor cena de sempre.

Rambla

Morar numa Rambla (atenção, não é "La Rambla") também significa ouvir Excepter ao ritmo duma pandeireta.

Bares Ilegais

Aparentemente fazem parte da noite típica de Barcelona. Depois de uma corrida legal aos bares do Borne, saindo à medida que iam fechando, segui o nosso Teaching Assistant até à porta da casa de alguém. Silêncio profundo. Alguém nos apressou com um "entrem, vamos", e penetrei no meu primeiro bairro ilegal. O bar era uma cave demasiado cheia, com música estridente e com cerveja a 4 euros que está aberto bem depois da hora de fecho dos bares da zona (entre as 3h e as 4h, suponho).
Nota final para a música nestes bares do Borne: faz-se tanto barulho que nunca se percebe o que está a tocar. Faz especialmente confusão ver gajas muito giras a falar como peixeiras.

Frigorífico

Há um episódio de Seinfeld em que um Kramer fora de controlo está viciado na adrenalina de conduzir um carro até este ficar sem gasolina. Passa-se algo parecido no meu frigorífico e, ultimamente, cada refeição que faço é como mais um quilómetro no carro condenado do Kramer.

Exame

Depois da semana passada com 7 horas de aulas por dia, às 5 da manhã foram adicionadas 2 horas de Matlab e Stata de tarde, nada melhor que um exame diagnóstico no final da semana. A falta de incentivos é gritante e a sensação geral, pelo menos da parte dos que já viram isto antos, é algo do género: "o que acontecerá se faltar ao exame?".

Livros

Só trouxe comigo o livro que estava a ler. Entretanto acabou e deparei-me com o problema do que ler a seguir (que não de estudo). Sabia de várias hipóteses, tinha-me inscrito no www.bookcrossing.com, haveria certamente livros em inglês à venda por Barcelona; mas a fonte acabou por ser a fantástica biblioteca de Pompeu Fabra. Estou neste momento a ler England's Dreaming de Jon Savage, sobre a história dos Sex Pistols, ironicamente retirado da secção de Música.

Eventualmente, o grande objectivo será ler livros em castelhano e talvez catalão. Para isso devo recorrer amanhã à feira do livro que está a decorrer na rua paralela à minha.

Recordar os primeiros dias de Quarto

Antes...

... depois.

"Campus"

O meu campus é composto por três edifícios cor de tijolo. Dois deles são edifícios antigos recuperados, desinteressantes por fora, mas lindíssimos por dentro. A parte "antiga" da biblioteca é fenomenal, brevemente trarei fotos. O departamento de Economia está no edíficio Jaume I, o mais banal. Algures entre o primeiro andar e o segundo será o meu cubículo: uma secretária e um cacifo num gabinete partilhado com mais uns quantos estudantes. Só segunda-feira terei as chaves. Para já deixo-vos as únicas fotos que tenho do pátio interior, a vista que terei do meu posto de trabalho.

Pompeu Fabra

Pompeu Fabra é uma universidade publica recente (1990) e talvez a menos conhecida de Barcelona, atrás da Autónoma e da Universidade de Barcelona. Recentemente saiu uma classificação qualquer das 500 melhores universidades do mundo e a UPF não estava lá (as outras estavam).

Em Economia parece que já não é tanto assim e o GPEFM está claramente na moda, a julgar pela variedade na origem dos estudantes e pela quantidade de malta que está a pagar o curso do bolso. Uma coisa engraçada é que há muita gente com o objectivo de apenas fazer o mestrado, gente com origens profissionais mesmo estranhas. Somos cerca de 90 para 4 mestrados, em que apenas um é o antecedente natural do PHD. Parece que o mestrado funciona como um substituto dum MBA (também é oferecido pela UPF) que não distingue suficientemente os alunos. Nem toda a gente quer networking, dançar e pouco trabalho, which is nice.

Aulas

Hoje acabou o Math & Statistics Revision Course. Este curso teve três partes: Álgebra Linear (3 sessões), Análise (3 sessões) e Estatística (4 sessões). Foram 5 horas por dia, 4 de teoria e 1 de exercícios. O aspecto mais gritante foram as 4 horas dedicadas à amostragem. Isto incluíu o estudo das distribuições da amostra, mas o pior foi o destaque dado às técnicas de amostragem e cuidados a ter quando se dá instruções a entrevistadores de um inquérito de rua.
Suponho que foi esta a forma do Professor, ele próprio um Estatístico, cativar os alunos que tanto se tinham queixado anteriormente, mas não deixa de ser estúpido não termos revisto coisas importantes como maximização com restrições e equações diferenciais (estas nunca se safam quando há falta de tempo); por causa de historietas idiotas, blá-blá teórico e uma parte desavergonhada da malta, que acabaram por ter a seca que mereciam.

Bike

Faculdade: 20 minutos.
Praia: 25 minutos.
Copos: 10 minutos.
Cadeados: 3.

Aulas

Até agora as aulas têm sido revisões de Matemática. Nada de especial, um semestre de Álgebra Linear ao nível de licenciatura em 3 manhãs, Cálculo do nível da Ducla com alguma Topologia simples, poucas demonstrações. O mais complicado tem sido a parte de estatística, ainda assim nada de extraordinário.
A registar, a fraca preparação de grande parte da malta que gera queixas ("is there any way we can do this without mathematics?", pergunta um americano duma "top 5 american business school") e risos I'm-so-high-right-now durante exemplos de conjuntos que são abertos e fechados ao mesmo tempo ou a fórmula da covariância. Nesta última não consigo perceber a piada.

Futebol

Vi o Sporting - Benfica num bar cheio de portugueses. Há um canal codificado espanhol (qualquer coisa 3) que passa os jogos mais importantes da liga portuguesa. De resto, esse bar também passa a rtpi, onde vi o golo mete nojo do Ricardo Quaresma, o que significa que poderei acompanhar uma boa parte dos jogos do Benfica numa tela e a beber uma cerveja. O ambiente é porreiro, apesar do ocasional idiota que pergunta em portunhol se "tiene superbock". O dono do bar tolera a malta, demasiado barulhenta e asneirenta e o jogo só termina depois da meia-noite, já sem espanhóis no bar. Nem sei se o bar, localizado dentro de um centro comercial, tem licença para estar aberto até tão tarde (pelo menos é o único aberto). Em relação à liga do campeões, resta-me o www.tvmix.net e talvez uma viagem a sul a Casteló.

Quanto a jogar futebol, interessados não faltam e o primeiro jogo está marcado para Quinta-Feira, contra os estudantes mais velhos do GPEFM. Relva sintéctica e campo coberto. Até agora a nossa equipa é composta por dois turcos, dois tugas, três italianos e um alemão. Factos curiosos: dois tugas a jogar em dois inscritos no GPEFM enquanto que o brasileiro não joga.

Mas-Collel

Avistado hoje a sair do seu gabinete. É enorme (as in "largo").

Quarto

Não tenho dúvidas que fiquei com o melhor quarto que vi na infame procura de casa. Tenho 25 metros quadrados de espaço, uma cama dupla (enorme) e um belo armário branco (enorme). De resto a decoração é minimalista: duas cadeiras, duas mesas de cabeceira e um caixote para a roupa suja. Tenho soalho de madeira e ar condicionado (quente e frio). O quarto está bem iluminado por duas pequenas varandas, onde numa delas cabe uma bicicleta. Comprei dois tapetes, talvez precise de mais um, um caixote do lixo e um candeeiro de cama. Falta a compra mais importante, uma secretária e a respectiva cadeira, mas tenho-me debatido com o problema do transporte. Talvez compre em segunda mão perto de casa.

Os extras associados ao quarto incluem uma cozinha simpática, bem equipada, com dois grandes bancos corridos de madeira e uma mesa enorme. Mais importante, tenho um terraço que é comum aos vizinhos (que formam um conjunto vazio: é nosso.). A vista dá para um pátio interior, típico do Eixample, que tem o aspecto duma cidade industrial. Do outro lado do pátio vê-se as traseiras da Casa Batlló de Gaudi (aquela que é colorida), apresentada como "un regalo para los ojos" pelo meu colega de apartamento. No outro dia podia-se também ver umas senhoras a fazer topless. Barcelona Beach is playing at my house.

Colegas de Apartamento

Vivo com duas pessoas. Um catalão do Real Madrid (sim, pois) e uma colombiana. É gente porreira, um pouco mais velha que eu e que trabalha para ganhar a vida. O resultado é um ambiente sossegado com boas as condições para estudar.

Edit: Obviamente este post ficou por acabar. Agora fica assim.

Computador

Finalmente comprei um computador (um laptop Acer, sencillo, como lhe chamou o gajo que mo vendeu). Apesar de ainda não ter net em casa, já estava a ficar incomodado. Felizmente, os espanhóis são simpáticos e descuidados, e eu vivo numa zona central. Resultado: tenho wireless gamada. Varia entre 2Mbs e 11 Mbs, ás vezes falha, e ainda estou por descobrir onde é que o sinal é mais forte (até agora ganha a cozinha), mas para já está a ser bombante.

A minha rua

O meu prédio

Procurar casa

Os primeiros dias foram dedicados à procura de casa. Esta procura durou 5 dias e foi uma actividade absorvente. É desolador chegar à pousada no final do dia sem sucesso. É pior ainda a expectativa que se cria antes de ver um quarto e a desilusão que a segue.
Finalmente consegui um quarto porreiro numa zona aceitável. Vivo num sítio muito mais burgês do que alguma vez me imaginei a viver. Os meus vizinhos são advogados, uma pastelaria fina, uma empresa de internet e um centro de fisioterapia, mas entretanto já tinha percebido que a procura terminava quando eu me fartasse dela.

Primeiro post

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